amizade, casa 2 e casa 11
Não quero que o leitor leve muito a sério o texto a seguir. Ele é uma especulação e, como tal, é sujeita ao teste da prática astrológica. De qualquer forma, foi uma reflexão na qual tenho me fixado nos últimos dias.
Quem estuda jyotisha e astrologia medieval ao mesmo tempo pode encontrar ocasiões nas quais vai se confundir, dadas as atribuições diferentes que cada escola dá à mesma casa. É o caso do tema ‘amizade’. Enquanto a Astrologia medieval atribui a casa 11 à amizade, a jyotisha a relaciona à casa 2 (alguns autores à 4).
Muita gente não acha bom estudar o mapa sob duas perspectivas simultaneamente, mas a meu ver isso pode ser feito, desde que haja cuidado. Não se trata de simplificar uma escola em detrimento da outra ou de se misturar as técnicas. Cada uma tem um corpo teórico fechado e auto-suficiente que não deve ser deturpado, mas o exercício de ambas (ou de pelo menos algumas nuances de uma delas sendo levadas em conta na abordagem da outra) pode enriquecer a interpretação do astrólogo. A cada dia mais que eu estudo ambas, porém, tenho a forte suposição de que muitas das contradições teóricas sejam apenas aparentes.
Tenho sentido que o significado das casas seja mais flexível do que se supõe. De fato, algumas casas tem seus significados definidos: para os indianos, a mãe seria indicada pela casa 4 e nada mudará isso. Com outros significados, porém, objetos que algumas casas representam podem variar. O que seria inalterado, porém é o modo como se chegam a eles.
Tomemos por exemplo a Casa 11. Para os árabes e astrólogos medievais europeus, ela indicaria amizade e lucros oriundos das ações. Ernst Wilhelm, astrólogo jyotisha norte-americano, abre um precedente para que ela indique amizade também na jyotisha, desde que seja a amizade oriunda das nossas ações (casa 10), logo, colegas de trabalho. A maioria dos autores indianos não abre o mesmo precedente e se refere à casa 2 (ao invés da 11) como família e amigos íntimos. E a minha opinião, no presente, tende a ser mais flexível a respeito.
A meu ver, tanto a casa 2 quanto a Casa 11 podem indicar amizades. A diferença reside no modo que se obteve tais amizades, ou no modo como se lida com elas. Não estou com isso querendo subjetivar a astrologia como fazem alguns autores modernos, como o leitor perceberá nos parágrafos a seguir.
A casa 10 não representa somente o seu trabalho, mas tudo que você faz e lança no mundo como suas obras. Por suceder a 10, a Casa 11 são os frutos das suas ações. Esses frutos incluem amizades, desde que essas amizades sejam resultantes do que você faz no mundo para construir sua fama. Por exemplo: você cria um blogue de astrologia (uma ação – Casa 10) e uma pessoa começa a se corresponder contigo e, com o tempo, se tornam amigos (fruto da 10 – Casa 11). Ou então, como a casa 11 representa aspirações, as amizades nela podem surgir por você ter uma meta em comum com seu amigo. É o que acontece nos movimentos estudantis e nos conjuntos musicais.
A dinâmica de amizade da casa 2 tende a ser diferente. Você é responsável por tudo aquilo que tomou posse. A Casa 2, portanto representa tudo aquilo sobre o qual você tem responsabilidade. É o dinheiro que você já tem e acumulou, são suas responsabilidades com sua casa e família. Autores medievais reforçam a responsabilidade da casa quando alguns se referem a ela como representante dos servos que trabalham na sua casa (vide o trabalho de Benjamin Dykes). Por fazer parte do ‘trígono material’ (artha trikona) referido pelos indianos, é uma casa que envolve deveres e convívio diário.
Diante do que a casa 2 representa, só me resta concluir que a maioria dos meus amigos não são representados por ela. A maioria foram conseguidos por intermédio das minhas ações e não me sinto responsável por eles num sentido material. Estamos juntos como amigos por termos um objetivo em comum. Eu mesmo tenho uma banda de mpb/rock e volta e meia nos reunimos para ensaiar, fazer shows, etc. Infelizmente, são amigos que eu gostaria de ver mais do que meu tempo permite. Por essa mesma razão, são amigos que não frequentam minha casa como eu gostaria de que frequentassem, mas nem por isso eu deixo de considerá-los meus grandes amigos. Há também os amigos obtidos na internet, pelas redes sociais. Com alguns deles, eu falo mais do que meus amigos de presença física, e os leitor observará isso também na sua vida, pois cada vez as relações não se sujeitam a limitações espaciais.
A minha experiência reforça que a 11 tem uma significação forte para as amizades que mais tenho. Meu Ascendente da Revolução Solar de 2006 caiu em cima da minha Vênus natal na 11, o que representou a reunião da banda (após um ano de afastamento) com a gravação em estúdio de algumas músicas, coisa que nunca tinha ocorrido antes. Com a reunião e o trabalho, vem junto um retorno à convivência.
Diante de tudo que foi exposto, o leitor percebe que eu estou muito mais inclinado a considerar amizades como tema da Casa 11, mas não é bem assim. Amizades que surjam não como fruto de suas ações, ou independentes de terem um objetivo em comum com o nativo poderiam ser representadas pela Casa 2. Seria uma afinidade inexplicável, uma grande cumplicidade, uma convivência mais íntima e a despreocupação em ter metas conjuntas. Seria a amizade dos vínculos familiares, embora não seja restrita ao vínculo sanguíneo.
Ainda há muito que ser escrito nesse artigo, e portanto se trata de uma introdução sujeita a revisões.
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