Novas visões sobre os sistemas de Casas
Os estudos mais recentes das obras da Astrologia Clássica concordam com a coexistência de dois sistemas de Casas: um sistema baseado emquadrantes e outro baseado em signos inteiros. Vamos esclarecer a diferença entre os dois e propor uma solução conciliadora.
O sistema baseado em quadrantes é conhecido pelo estudante de Astrologia moderna porque é o mais usado para se dividir as casas:
Placidus, Koch, Regiomontanus, etc.: existem várias formas de divisão por quadrantes e, em todas elas, temos a característica marcante de gerar Casas de tamanhos diferentes – diferenças sutis em muitos casos, mas que podem se acentuar quanto maior for a latitude do local de nascimento.
Por exemplo, é muito comum o estudante de Astrologia ver mapas nos quais uma Casa ocupa dois signos, ou o contrário: duas Casas num único Signo, como se pode ver no mapa abaixo, no qual o Signo de Capricórnio não tem a cúspide de nenhuma Casa, ficando entre o Ascendente e a Casa 2.

Existe uma maneira de entender porque essa divisão desigual acontece em todos os sistemas de quadrantes, mas está fora do tema desse artigo. Passaremos agora à explicação do segundo sistema de Casas, chamado se Signos inteiros, que gera Casas de tamanhos iguais.
Esse outro sistema de Casas é empregado na Índia até hoje – consiste em considerar um signo inteiro uma Casa, sendo que a contagem ocorre a partir do Ascendente. Se usarmos o Sistema de Signos inteiros na figura acima, por exemplo, o Signo de Capricórnio seria a segunda Casa-Signo a partir do Ascendente, mesmo que ele não possua nenhuma cúspide. Assim, cada Casa possui exatamente 30˚ de longitude, sendo os limites o primeiro e o último graus do Signo.
Desde o renascimento da Astrologia Clássica, há muita discussão sobre qual seria o melhor sistema de Casas: o de Signos Inteiros ou o de Quadrantes? Não há uma resposta muito clara para isso nos textos antigos.
Astrólogos como Masha’Allah são flagrados, nos seus registros, usando os dois sistemas acima ao mesmo tempo, uma coisa que é muito confusa, a depender do modo como o estudante concebe a Astrologia e do seu nível de habilidade. Durante algum tempo eu agi dessa forma, mas confesso que era desanimador, dado o grande esforço de raciocínio que isso implicava.
O sistema de Casas defendido por alguns astrólogos Jyotisha (como Ernst Wilhelm): a conciliação.
Recentemente, estou estudando mais a fundo Astrologia indiana, e tenho obtido perspectivas diferentes, que gostaria de compartilhar com o leitor. Muitas dessas perspectivas podem soar muito revolucionárias para Astrólogos Jyotisha (védicos) tradicionais, embora não entrem em contradição com o que as grandes referências (Parasara e Jaimini) ensinam.
Uma dessas perspectivas inovadoras seria na conciliação dos dois sistemas de Casas acima. Ernst Wilhelm sugere uma solução interessante, inspirado em Parasara – muito embora o Maharishi não seja explícito sobre qual sistema de Casas deva ser usado, deixando a cargo do estudante encontrar por si só a solução.
Para Ernst, a cúspide das Casas (os pontos imaginários que interceptam o zodíaco) são chamados de Bhavas – termo que nos livros antigos é usado também para Signos, sem distinção, mas aqui esse termo se restringe somente às cúspides. Na figura acima, por exemplo, a cúspide da Casa 2 em 07˚Aquário seria o 2ºBhava. Para propósito de facilitação, eventualmente eu chamarei neste artigo os ‘Bhavas’ de ‘cúspides’.
Segundo Ernst, o Bhava indica coisas concretasna vida da pessoa – assim, a cúspide do 4º Bhava (chamado por nós de Imun Coeli, ou Fundo do Céu) indicaria a mãe da pessoa. O 3º Bhava indicaria os irmãos mais novos, e assim sucessivamente – com a ressalva de que o Bhava (cúspide) sempre indica algo concreto.
Mas a diferença não acaba por aí. Além de considerar a cúspide da Casa como o representante concreto dos seus significados, Ernst refuta seu uso como delimitador do espaço da Casa – para ele, um Bhava não precisa ter espaço – ele é tão somente um ponto sensível.
Na Astrologia Ocidental, as Cúspides são pouco usadas como pontos sensíveis, e mais usadas como delimitadores do espaço das Casas: comumente se considera qualquer planeta entre a cúspide da Casa 3 e da Casa 4 pertencente à Casa 3. Essa função delimitadora, no sistema concebido por Ernst, é desnecessária porque:
Não é necessário saber se um planeta pertence ou não a uma determinada Casa para influenciá-la usando as cúspides como limites.
A influência sobre os assuntos concretos indicados pela Casa é dada por aspecto ou conjunção dos planetas com a tal cúspide.
Ao observarmos a Lua na figura acima, qualquer astrólogo ocidental diria que ela está na Casa 2 – até os astrólogos que usam do sistema de signos inteiros diriam o mesmo. Note, porém, que, como a Lua está num Signo que não recebe cúspides, a influência sobre as cúspides vizinhas a ela é muito pequena, porque signos vizinhos não se aspectam. Portanto, a sua influência sobre a segunda cúspide é pequena.
Se a Lua estivesse no mesmo signo do Ascendente ou no mesmo signo da cúspide da Casa 2 (Aquário), ela poderia influenciar mais o Ascendente ou a 2ª cúspide, porque aí ela estaria em conjunção com uma delas (não há conjunção fora de signo, entre signos vizinhos).
Todavia, a Lua está no segundo Signo, e isso tem uma importância diferente, que será explicitada melhor agora.
A função dos Signos.
Nesse sistema, ao mesmo tempo em que se usa as cúspides, os signos não são descartados, porém a função deles é diferente. Ao invés dos signos indicarem assuntos concretos como as cúspides, eles indicam dinâmicas de açãoconforme a posicão deles em relação ao signo Ascendente.
A melhor coisa agora seria proporcionar um exemplo. Vamos diferenciar o que seria a Casa 6 (cúspide) do sexto Signo nesse sistema:
- Cúspide da 6: indica inimigos, dívidas, doenças.
- Sexto Signo: indica atraso, esforço redobrado.
Ou seja: a cúspide da Casa 6 indica eventos concretos, enquanto o sexto signo indica uma dinâmica. Essa diferenciação pode ser generalizada para qualquer casa, mas para isso é necessário saber qual seria a diferença entre os significados da cúspide e o do Signo.
Abaixo eu apresento algumas sugestões de como seria a dinâmica de cada casa:
- Signos 1, 4, 7 e 10 a partir do Ascendente indicam extrema facilidade para que os significados do planeta entre na vida da pessoa
- Signos 5 e 9 a partir do Ascendente indicam planetas que partilham do mesmo propósito do nativo na vida (o Ascendente) e com isso também se realizam facilmente, menos do que os planetas nas casas 1/4/7/10.
Quaisquer planetas fora dos signos acima acontecem sob dinâmicas de ação mais problemáticas:
- · Planetas no 2º signo representam coisas que exigem mais responsabilidade e cuidado para que dêem certo. Não vem facilmente.
- · No 3º Signo, é preciso empregar mais esforço, mais habilidade.
- · No 6º, as coisas demoram, são pesadas, requerem mais trabalho para mantê-las.
- · No 8º, a coisa indicada pelo planeta requer muitas mudanças na vida da pessoa, indica algo que precisa ser refeito, se reconstruir, ser derrubado para se reerguer completamente diferente.
- · No 11º, as coisas indicadas pelo planeta passam por um processo para serem obtidas, requer mais planejamento, precisa cumprir algumas obrigações.
- · No 12º, requer sacrifícios para se ter, seja pessoal, de prazer, seja de tempo, etc.
Neste texto, eu não citei muitos significados concretos das Casas porque eles são muito mais populares e podem ser lidos em qualquer texto básico (existem muitos na internet). Mas à medida em que eu citar exemplos, vou rememorar alguns deles para que o leitor note a diferença.
Um planeta pode estar, por exemplo, no oitavo signo, e não ter nada a ver com seus assuntos concretos (morte, batalhas, etc). Todavia, as coisas que ele representa sofrerão a dinâmica do oitavo signo: serão eventos, situações, coisas ou pessoas que precisarão ser desconstruídas para renascerem, sofrer crises.
Invertendo o raciocínio do exemplo acima, um planeta pode não estar no oitavo signo, mas pode estar em conjunção com a cúspide da Casa 8 (supondo que esta se encontre em outro signo ao invés do oitavo): esse planeta teria mais relação com os temas concretos da Casa 8 (morte, batalhas, dinheiro de terceiros).
Na maioria dos casos, uma cúspide vai cair no mesmo Signo contado a partir do Ascendente. Em outros casos, não, como no mapa acima, onde a 12ª cúspide não caiu no 12º Signo, mas sim no primeiro.
Um último exemplo, para fixar.
Exercitando o conhecimento acima na figura, vamos analisar o 12º Signo a partir do Ascendente Sagitário, porque há três planetas nele.
Sol, Vênus e Mercúrio estão em Escorpião. A partir do Ascendente Sagitário, Escorpião é o 12º Signo que, como dito anteriormente, não indicaria eventos concretos de Casa 12, mas uma dinâmica de ação que influenciaria as cúspides regidas pelos planetas que estão em Escorpião.
Vênus rege as 5ª e 10ª cúspides; Sol rege a 8ª e mercúrio a 9ª e a 7ª. São muitas cúspides no território do 12º signo, que vai representar que todos esses assuntos concretos são realizados às custas de algum sacrifício por parte do nativo dono do mapa.
Note no mesmo mapa que, enquanto Escorpião é o 12º Signo, a cúspide da Casa 12 não recai em nesse Signo, mas nos graus iniciais de Sagitário; portanto, os eventos concretos da Casa 12 (resultado das ações dos inimigos, prazeres de cama e outros mais) seriam regidos por Júpiter (regente de Sagitário) ao invés de Marte (regente de Escorpião), por que a cúspide da 12 está em Sagitário.
Esse método de análise gera uma conclusão interessante: ao dissociar ‘Casa’ de ‘Signo’, as coisas finalmente se apresentam de forma mais lógica: tradicionalmente, um planeta na Casa 12 é considerado algo ruim, porém existem assuntos de Casa 12 que são bons ou neutros. A diferença entre ambos é que nem sempre a cúspide da Casa 12 recai no 12º Signo, o que indica uma clara dissociação entre os eventos concretos da Casa 12 e a sua dinâmica.
27 de April de 2011 at 9:56 PM · Filed under Astrologia jyotisha, Astrologia Medieval, Cielo e Terra, Paulo Silva, planetas, Regências
Quando começamos a estudar mais a fundo a astrologia natal, os planetas recebem muitas informações complementares. Com o tempo, essas informações podem tomar o lugar do que seria mais importante, que são as características essenciais dos planetas. Assim a astrologia fica empobrecida, se comparada ao potencial que ela possui.
As casas caem em signos, e os signos, como sabemos, são regidos por planetas. O que significa ‘reger’? Ao invés de descrever o termo, vou dar exemplos de como uma regência funciona. Assim você descreverá o conceito a sua maneira.
Só o fato de um planeta reger uma casa já porta consigo uma informação importante a ser interpretada, independentemente da casa que o planeta ocupar. O grande problema é que as pessoas – eu incluso – tendem a pular essa etapa e a ver onde o ‘regente da casa tal’ se encontra no mapa. Isso empobrece a interpretação e omite pistas preciosas.
A etapa importante que nós costumamos omitir vem a seguir:
Primeiramente, devemos pegar os significados essenciais do planeta que tenham a ver com a casa que ele rege. Por exemplo, se júpiter reger a casa 2, com certeza ele faz menção a dinheiro na sua forma mais ‘pura’, pois ele é significador essencial de dinheiro. A mesma coisa acontece com Júpiter regendo a 5 faz menção clara a crianças porque ele é significador essencial de crianças.
Se o planeta não possui nenhum significado claramente relacionado a casa, devemos proceder da seguinte forma:
As experiências que o planeta representa serão vivenciadas pelo nativo através das casas que o planeta reger.
Além disso, o planeta se torna um descritor das coisas que a casa representa.
Por exemplo: marte regendo a casa 5 significa primeiramente que o nativo experimentará conflitos, viagens, rapidez, cortes, feridas e cirurgias dentro do tema ‘crianças’. Trata-se de uma pletora de significações a serem confirmadas. Ele não experimentará tudo isso: é necessário vermos no mapa o que será mais comum pela posição de marte.
Se marte estiver em bom estado zodiacal (domiciliado ou exaltado ou em seus termos ou em sua triplicidade), o sujeito experimentará vitória nessas coisas. Caso contrário, derrotas e prejuízos.
Além de tudo que foi dito acima sobre marte, chegamos ao segundo ponto acima, que consiste em usar os adjetivos de marte para definir tudo aquilo que representa a casa 5: as crianças, o poder, a criatividade, a sexualidade, todas essas coisas serão marciais: rápidas, agressivas, até mesmo cruéis.
Não estou sendo inovador nessa abordagem. Basta ler alguns autores como Dorotheus e Rhetorius que o leitor perceberá a estrutura subjacente que me inspirou a escrever esse artigo.
A segunda etapa desse artigo para mim é a mais importante. Consiste em apontar um outro erro comum do iniciante: o que a casa representa, qual é o propósito dela. Isso é mais complexo do que parece, e tem relação direta com a primeira parte do artigo. Você entenderá.
Tomemos a casa 6 como exemplo. Esta casa rege servos, acidentes e trabalho. Tem, portanto, uma íntima associação com o antigo conceito de escravidão e de luta pela sobrevivência. O propósito da casa 6 é que o nativo consiga sobreviver às adversidades da vida, que ocasionalmente vem sob a forma de doença e de trabalho. Era também uma casa muito ligada a inimigos, que também são um obstáculo a sobrevivência. Pelo que dá pra se perceber, não se trata de uma casa ruim se conseguirmos vencer os seus desafios, só que, na maioria das vezes, alguma coisa dela nos vence, ainda que temporariamente…
Ainda na casa 6, vamos dar um exemplo simples, a saber, a Casa 6 sendo regida por mercúrio:
Mercúrio significa essencialmente algumas coisas que fazem parte do território da casa 6, mas o que vou dizer se aplica a qualquer planeta: todos os planetas regem alguma parte do corpo, e essa parte do corpo pode sofrer se o planeta reger a casa 6 e se encontrar em mal estado. No caso, mercúrio rege a garganta e, em mal estado, indica lesão nessa região.
Existem coisas que não tem nada a ver com Mercúrio, mas que fazem parte da casa 6: no caso, a luta pela sobrevivência, os inimigos. Como devemos interpretar? Abaixo, temos as duas soluções:
A pessoa pode ter inimigos, servos e trabalhos mercuriais: pessoas efeminadas, fofoqueiros, pessoas de profissão mercurial como contadores, hackers, etc. Como trabalhos, podemos dizer que a burocracia é algo mercurial, a escrita, as documentações em geral, os papéis e títulos.
A pessoa pode sofrer adversidades devido a tudo que seja mercurial: documentos, estudos, provas, professores, contadores, cartas, intrigas, pessoas efeminadas, músicos (se mercúrio estiver com Vênus) etc.
Essas duas soluções servirão para praticamente interpretarmos os planetas que regerem qualquer casa do mapa natal.
uma vez interpretando o planeta regendo uma casa, você precisa saber se ele é competente para realizar o propósito dela. Eu diria que o seu grande problema será saber qual seria o propósito da casa. uma vez compreendendo, os planetas que regem a casa vão se esforçar para ajudá-la:
Nenhum planeta machuca a casa que ele rege, mas é evidente que o planeta maléfico regente da casa faz os temas dela ficarem cercados de estresse e temor. Isso porque, com um maléfico regendo a casa, o nativo tem que se esforçar e vivenciar as experiências do maléfico para cumprir o propósito dela!
Veja o que diz Sahl:
Se um maléfico reger a casa objeto da questão, o nativo temerá o desfecho da pergunta
Se eu quiser um relacionamento, fizer uma horária e Saturno reger a casa 7, então a pessoa fica numa situação de querer se relacionar mas tem ao mesmo tempo medo de sofrer, de se sujeitar, da vida ficar restrita… Conheço vários casos assim e eu sou um deles…
Entenda por propósito como ‘a expressão mais construtiva da casa para que seus temas funcionem bem ou sejam algo bem resolvido’. Muitas vezes não temos noção dos propósitos, sendo esse conhecimento praticamente ausente dos livros de astrologia medieval. Nesse caso, os indianos ajudam – e muito! – nesse entendimento. Por exemplo, o propósito principal da casa 7 é satisfazer os desejos através de relacionamentos. É uma casa ‘kama’, que em Sânscrito significa ‘desejo’.
Quanto às casas ‘maléficas’ (casas 6, 8 e 12), não há conselho melhor do que esse:
O propósito de uma casa que rege assuntos difíceis ou sombrios é fazer com que a pessoa passe por eles sem muito sofrimento e que os resolva bem.
A casa 12 é um exemplo dos mais clássicos. Ela rege para os indianos inimigos secretos também, mas principalmente dívidas e sacrifícios. Todos nós temos que renunciar alguma coisa em nossas vidas mais cedo ou mais tarde, mas muitas vezes não experimentamos essa renúncia voluntariamente: vem sob a forma de perda, débito.
Se a pessoa tem maléficos regendo essas casas, as perdas são cercadas de muito temor. Isso é o normal para se esperar de humanos, mas e as pessoas que tem uma capacidade fantástica de superação? E aquelas que enfrentam esses momentos com serenidade? Os benéficos regendo essas casas indicam serenidade e confiança na hora do temor e a pessoa experimenta alívio e paz.
Pegue o seu mapa e olhe quais planetas regem quais casas e faça o exercício do que ensinei aqui. Aprenda as significações essenciais dos planetas antes para fazer esse exercício. O site do astrólogo Paulo Silva tem várias listas com as manifestações dos planetas e que podem lhe ajudar nesse sentido. O site do Cielo e Terra está em italiano, mas o Google Translator lhe auxiliará, é um site muito bom também para esse intento.
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