os peixes que nadam em círculos


É interessante como o signo de peixes, mesmo sendo regido por dois benéficos, guarda na astrologia clássica algumas conotações negativas.

A astrologia moderna atribui qualidades "delusionais" ao signo devido à regência atribuída ao planeta Netuno. Mas a astrologia clássica também dá um tom enganoso e conflituoso ao signo.

A imagem zodiacal é de dois peixes segurando uma faixa de tecido pelas bocas, e nadando em sentidos opostos, exercendo o que seria um estranho cabo de guerra marinho. A resultante desses "vetores" seria nula - ninguém se move para lugar nenhum. Porém, a depender de outras variáveis, como a correnteza das águas onde os dois se encontram, os dois animais nadariam em círculos.

Usando essa imagem para representar o que ocorreria nos domínios da mente humana, ela sugere um grande conflito interno: duas forças de mesma grandeza mas que, ao se oporem, geram, no mínimo, uma estagnação no movimento da unidade que formam, tendo como consequência disso a sujeição a qualquer correnteza externa, sem lutar contra a mesma, ou aproveitá-la caso o sentido fosse o mesmo dos dois peixes, isto é, se ambos nadassem no mesmo sentido.

Pessoas com peixes regendo pontos pessoais no mapa - e eu não me refiro ao sol, mas ao regente do ascendente ou o regente do mapa (oikodespotes) podem ser bem complicadas da cabeça mesmo, principalmente se esse regente for aflito por maléficos.

Em astrologia horária, a técnica de William Lilly para checar se uma pessoa é mentirosa consiste em ver se o significador da mesma está em signos mutáveis ou cardinais. Sendo signo mutável - o que Peixes também seria - a pessoa significada pelo planeta tem duas versões do mesmo fato. Sendo signos cardinais, a pessoa teria várias versões do mesmo fato - ou, pior ainda, ela crê veementemente numa versão e, mais adiante, mudaria de ideia. Sendo um signo mutável, o pisciano (de acordo com os critérios acima, e não apenas por ter sol em peixes) é considerado mentiroso até mesmo na astrologia clássica.
Peixes e os entretenimentos.
Os excessos alcoólicos e de entorpecentes referidos ao signo podem ser justificados pelo fato de ser um signo regido por dois benéficos, sendo estes ligados a prazeres e, quando testemunhados por maléficos, indicariam que os excessos dos mesmos levam a doenças.

Cinema e artes em geral também seriam representados por Peixes porque Vênus significa harmonização e apreciação estética. Júpiter é o benéfico do elitizado séquito diurno, composto pelo sol e por Saturno, o que deixa implícito ter algum dinheiro para se ter acesso a essas coisas (ou tempo para apreciá-las).

Peixes e a espiritualidade
Peixes é um signo "espiritual", mas por quê? Hoje em dia, tudo é por culpa do Netuno. Esse planeta consegue colocar, sob a mesma tutela, drogadictos, trabalhadores da indústria do cinema, religiosos e sonhadores. Admito que foi uma solução engenhosa e compacta para explicar tudo que o signo de peixes pode representar mas, de fato, essas coisas podem ser explicadas também à luz da Astrologia Clássica, e sem muito esforço.

O signo de peixes é o 9° a partir do ascendente Câncer do Thema Mundi, o mapa fictício usado para se explicar os conceitos astrológicos básicos da astrologia helênica. A casa 9 possui relação com religião e Deus, e os planetas que regem peixes, Júpiter e Vênus, portanto, terão relação com a religiosidade. Vênus rege piedade e rituais de purificação, enquanto Júpiter representa o conhecimento de verdades espirituais, que os gregos chamavam de gnosis (não confudir com o movimento gnóstico). O Sol não tem dignidade nenhuma em Peixes, mas é no nono signo de qualquer mapa onde ele se regozija, e portanto indica, em questões espirituais, o sumo sacerdote, a figura mais importante e autoritária da religião.

A era de Peixes
As eras astrológicas não são citadas por nenhum autor clássico ou medieval, apesar de derivarem do conceito do Ano Platônico, um período de tempo de aproximadamente 26 mil anos solares, que abrangeria a rotação em sentido horário dos equinócios por todo o zodíaco sideral, retornando para Áries, baseado no movimento do eixo terrestre chamado nutação.

O conceito é antiquíssimo, mas a significação dada é moderna. Não consegui encontrar qual foi o primeiro autor a interpretar esse conceito da forma como ele o é disseminado hoje. Se pudesse deduzir quem foi, diria algum autor teosófico, pois se trata de um conceito diretamente ligado à evolução da consciência humana, assunto pelo qual essa escola tinha um grande interesse.

Resumindo: o signo pelo qual passa o equinócio vernal indica mudanças na consciência da humanidade. Representam a disseminação de novos movimentos socioculturais ao redor do globo terrestre.

Mesmo não sendo um conceito clássico, Robert Schmidt faz algumas correlações entre o mesmo e conceitos astrológicos tradicionais, com resultados muito interessantes.

Como dito anteriormente, de acordo com a astrologia helenística, Peixes é o nono signo a partir do Thema Mundi. Durante a passagem do equinócio vernal por este signo (e que perdura até hoje), houve o fenômeno de massificação das religiões. O cristianismo, inicialmente considerado uma seita judaica, tomou o mundo ocidental, assim como o islamismo no oriente médio e África do Norte, e o budismo e hinduísmo no extremo oriente. 

Religião sempre existiu, muito antes da era de Peixes. Entretanto, cada estado tinha sua religião, com características e divindades peculiares. Era uma forma de identidade nacional. Com o advento dessa Era, porém, as religiões continuam sendo ligadas ao estado, mas podem ser "importadas" dos seus contextos originais e introduzidas noutros reinos/impérios, geralmente adjacentes. Foi o que aconteceu na troca da paganismo pelo cristianismo como religião do império romano, no reinado do imperador Constantino.

Guerras sempre existiram e, sob uma dialética marxista, podemos sempre levar em conta o materialismo como principal motivação pela qual impérios entram em guerra. Entretanto, na era de peixes, as justificativas para conflitos sempre são demagógicas: religião ou ideologias (quando se sabe que sempre serão materialistas). 

Teremos mais era de peixes por uns trezentos anos ainda. Muita água vai rolar por baixo dessa ponte, aonde os peixes continuarão a nadar, confusos. Entretanto, a disseminação do ateísmo explicita a gradativa evolução da humanidade para a próxima era, a famigerada Era de Aquário, indicada por um signo de ar e regida por um maléfico, o que, ao invés de sugerir tempos lúdicos e otimistas como no musical Hair, pode sugerir descrença generalizada, escassez, paranoia e o pior: Aquário é o oitavo signo do Thema Mundi, podendo significar a extinção da raça humana.

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